O sentimento de culpa, embora natural, pode ser muito prejudicial e recorrentemente é um dos maiores obstáculos para nosso desenvolvimento pessoal e espiritual.
Em termos práticos, a culpa mais fácil de resolver é a concreta, que surge a partir de algum ato cometido. Neste caso, mesmo que seja doloroso, é uma oportunidade de aprender e melhorar a autoestima.
Para isso é preciso ter integridade e reconhecer o erro cometido. Caso alguém tenha sido prejudicado, faça algo para reparar ou minimizar os danos. Procure entender os motivos que te levaram a agir desta maneira, aceite e reconheça a sua responsabilidade. Então se comprometa a estar mais consciente daquele comportamento e não permitir que se repita.
No entanto, as culpas imaginárias, transgeracionais (transmitidas dentro de uma família), e religiosas, têm raízes em lugares nada concretos e que exigem um esforço extra para serem superadas.
E é totalmente possível!
Nesse campo, os conceitos dos "crimes imaginários" são muito úteis para entendermos parte desse complexo da culpa, sobretudo o transgeracional e o imaginário. Lewis Engel e Tom Ferguson falam bastante disso e esses conceitos. Vamos ver um por um aqui abaixo:
Crime de suplantar Ocorre quando alguém se sente culpado inconscientemente por ir além da sua família, ou seja, é bem sucedido em alguma área que os pais e/ou irmãos não foram.
Crime de sobrecarregar Ocorre quando alguém pode carregar sentimentos que foram um peso para a família, devido a alguma doença, deficiência, ou até maneira de ser. Estas pessoas podem ter ouvido de maneira constante quando crianças que só davam trabalho e causavam transtornos.
Crime de roubar amor Gera culpa inconsciente naqueles que foram mais destacados que seus irmãos ou mais valorizados por um dos pais. Estas pessoas podem sentir que receberam mais atenção e cuidados, por qualquer razão, e com isso os outros tiveram menos afeto. Aqui podemos incluir o crime do sobrevivente. Se um pai ou irmão morre, podemos sentir culpa por estarmos vivos ou sentir que fomos responsáveis pela sua morte (muito comum em adultos que perderam pais ou irmãos quando eram crianças).
Crime de abandono Pode surgir quando saímos da casa dos pais ou mudamos de país para viver uma vida mais independente. Se os pais ficam tristes e infelizes com a ausência, a culpa pode se instalar de forma inconsciente.
Crime da maldade básica Diz respeito a inúmeras mensagens negativas ou negligência que foram vivenciadas na infância que futuramente faz o adulto acreditar que é mal apenas por existir.
O crime de deslealdade Cometido quando criticamos duramente os pais, desrespeitarmos regras familiares ou rejeitamos algo importante para a família como a religião, profissão ou estilo de vida. De certa forma todos os outros crimes também dizem respeito a uma lealdade familiar invisível.
A culpa oculta gerada por cada um destes crimes pode nos prejudicar em diversas áreas da vida, gerando algum tipo de autopunição que prejudica nosso sucesso, intimidade, prazer, espiritualidade ou vida social. A autossabotagem que se repete muitas vezes em determinada área pode estar relacionada a essa punição que nos infringimos por algum crime imaginário.
Já no campo religioso/espiritual, temos uma outra infinidade de situações com grande potencial de gerar o sentimento da culpa, com frequência potencializados pelos fatores transgeracionais e também educacionais nos quais estamos inseridos.
E, assim, induzimos nós mesmos a processos de autoboicote que normalmente não percebemos e que - adivinhem -, temos zero culpa, pois o que acontece é que perdemos o controle ao entrarmos em um sistema ele sim abusivamente controlador.
Esse é só um panorama sobre toda essa questão, que é tão presente e tão delicada. Quer entender um pouco mais sobre isso, ou se abrir para enxergar a você mesmo e detectar esses mecanismos no seu comportamento, vem falar comigo :)
E comece desde já a repetir o mantra: pode ser sem culpa!
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